Notícia de 5/1/2017
A região do Minhocão, apelido do elevado João Goulart no centro de São Paulo, ganhou seu sétimo jardim vertical em 2016. A ideia é forrar de plantas a lateral de edifícios para deixar a cidade menos cinza.
Uma técnica arquitetônica criada na Alemanha, no entanto, vai muito mais além: a baubotanik (bau, em alemão, quer dizer “construção”) vem desenvolvendo uma maneira de tornar as plantas parte da estrutura de um edifício.
A prática criada pelo arquiteto Ferdinand Ludwig molda as árvores por um processo de poda, flexão e enxertia, o ato de unir os tecidos de plantas. Ele une o componente vegetal a andaimes de metal e outros materiais de construção que alguns tipos de árvore têm a capacidade de incorporar. Conforme as árvores envelhecem, suas articulações fundidas se fortalecem, suportando ainda mais carga.
A baubotanik prevê a intervenção humana, mas esse processo já ocorre na natureza, quando troncos, ramos ou raízes próximos lentamente se fundem. Conforme os ramos crescem, cresce também a pressão que exercem entre si.
Técnica requer espécies de árvores específicas
Somente algumas espécies de árvores são adequadas para integrar construções. Há preferência pelas flexíveis e vigorosas, com cascas finas, que podem ser facilmente enxertadas. O salgueiro, o plátano e o álamo são algumas delas.
Para seu doutorado sobre o assunto, Ludwig testou cerca de 10 espécies diferentes em relação a sua capacidade de união. Árvores de casca grossa causaram mais problemas que as de casca fina quando unidas.
O princípio-chave, segundo Ludwig, é que as regras que regem a prática sejam derivadas das regras botânicas de crescimento – ou seja, é preciso considerar que parte da estrutura é um ser vivo e tratá-la como tal ao projetar o edifício.
Esse crescimento, no entanto, leva tempo para se completar. A maior estrutura projetada pelo arquiteto em Nagold, na Alemanha, conta com uma centena de árvores arranjadas no formato de um cubo por meio de uma estrutura de aço, que em algum momento se tornará desnecessária – os troncos e galhos vão acabar por sustentá-la sozinhos. O cubo foi planejado para demonstrar que é possível erguer uma estrutura semelhante à de um prédio utilizando esse tipo de arquitetura.
Nas vigas, há inscrições do ano em que podem ser removidas: a previsão é que a o cubo “aguente” sozinho em 2028. Dezesseis anos após a construção do cubo de árvores de Nagold, em 2012.
O PROJETO DA CONSTRUÇÃO ‘CUBO’, QUE UTILIZA A TÉCNICA
Quais são os benefícios de construir com árvores ?
A arquitetura viva combate a erosão do solo e melhora a qualidade do ar. Também tem impacto positivo no escoamento de águas pluviais. E pode, inclusive, melhorar a qualidade da água com suas raízes.
Além disso, como a absorção de calor do concreto é muito maior do que a das árvores, esse tipo de estrutura também pode reduzir custos de energia, eliminando a necessidade de refrigerar o interior de um prédio artificialmente.
As árvores ainda são conversoras de dióxido de carbono, um dos principais gases de efeito estufa. Seu uso em construções tem o potencial de conter as alterações climáticas. O objetivo é que o design de pontes de edifícios de finalidades diversas incorpore a baubotanik no futuro.
Algumas edificações de estruturas vivas já existentes na Alemanha
PASSARELA DE SALGUEIROS
Sem fundação propriamente dita, o suporte vegetal absorve exclusivamente a carga e a direciona ao solo, onde estão suas raízes. A superfície em que se anda é uma grade de aço, amparada por corrimões do mesmo material. A passarela fica na cidade alemã de Wald.
O SUPORTE VEGETAL ABSORVE EXCLUSIVAMENTE A CARGA E A DIRECIONA AO SOLO, ONDE FICAM AS RAÍZES DAS ÁRVORES
TORRE
A torre de 9 metros foi desenvolvida com a finalidade de teste, para avaliar quanto tempo a estrutura vegetal leva para extrair água e nutrientes do solo independentemente da intervenção humana. Os andaimes serão removidos quando essa estrutura estiver pronta. A construção fica em um parque em Wald.
A TORRE FOI DESENVOLVIDA PARA TESTAR QUANTO TEMPO A ESTRUTURA AGUENTARÁ APÓS A REMOÇÃO DOS ANDAIMES
CUBO DE ÁRVORES
Premiada na Alemanha, a estrutura é a maior já construída com os princípios da arquitetura com estruturas vivas. O design e a realização são de Ferdinand Ludwig e Daniel Schönle, na cidade alemã de Nagold.
O DESIGN CRIADO E COLOCADO EM PRÁTICA POR FERDINAND LUDWIG E DANIEL SCHÖNLE FOI PREMIADO NA ALEMANHA
Fonte: Nexo Jornal