Noticia de 12/12/2017
Essa frase chamou a atenção durante a palestra de Neil Thomas no curso Bamboo U, que ocorreu no mês de novembro de 2017 em Bali. Neil é diretor do atelier one, escritório de engenharia estrutural de Londres, que entre seus projetos de destaque estão palcos e cenografias para Rolling Stones, Pink Floyd e U2; instalações de arte de Anish Kapoor e Marc Quinn; o Gardens by the Bay, em Singapura, entre tantos outros. De alguns anos para cá, o engenheiro tem se aprofundado no estudo sobre o bambu, suas propriedades estruturais e suas mais diversas potencialidades.
Segundo ele, o bambu se aproxima muito de um material estrutural ideal. E isso começa com sua forma tubular. Uma seção aberta, como um canal, é mais fraca do que uma fechada, porque a borda pode se curvar com muito mais facilidade. É só pensar numa folha de papel e como ela torna-se mais forte quando enrolamos ela como um tubo, evitando que ela amasse tanto. Além disso ele tem outra característica que melhora sua resistência.
O bambu possui fibras longitudinais que saem de sua base até o topo, que são chamadas de feixes vasculares. Quanto mais próximo do exterior da parede dos colmos, esses feixes apresentam uma maior densidade, o que torna a peça mais resistente naturalmente. Portanto a parte mais forte da seção está mais afastada do seu centroide radialmente, tornando a peça mais resistente. E essa é a principal diferença em relação a um tronco de madeira, cuja parte mais forte está justamente no centro de sua seção.
Outra particularidade é sua velocidade de crescimento. Diferente de uma madeira dura, que pode demorar mais de 30 anos para poder ser explorada, o bambu pode ser cortado e utilizado entre 3 e 5 anos, voltando a crescer depois.
Em testes laboratoriais o bambu também atinge capacidades estruturais impressionantes. Sua resistência à compressão equivale à do concreto, enquanto que à tração, ele atinge os números do aço. Evidentemente, isso pode variar de acordo com as espécies –mais de 1500, que crescem naturalmente em quase todos os continentes, sobretudo nas regiões com temperaturas mais altas.
Ainda assim, há alguma resistência na utilização do material, uma vez que ele requer outro tipo de pensamento e a quebra de certos paradigmas tão enraizados na arquitetura. Um deles é o receio de utilizar o material em sua forma bruta, com suas irregularidades e formas naturais. onde justamente reside a beleza do bambu.
Há, claro, algumas questões que devem ser levadas em conta. Deve-se levar em conta o tratamento químico do bambu antes de seu uso para a construção civil, para evitar seu apodrecimento e o ataque de insetos. Outro cânone da construção em bambu é que os componentes devem ser muito bem protegidos do sol e da chuva, para uma durabilidade adequada. Isso também inclui os pilares, que não podem estar em contato direto com a terra, o que é geralmente resolvido agregando um pedaço de rocha sobre as sapatas.
O detalhamento do bambu e suas conexões foi desenvolvido historicamente, sendo repassado de geração em geração através de construtores artesanais, evoluindo através da compreensão do próprio material. No século 21, com toda a tecnologia que temos à disposição, é possível compreender melhor as forças específicas em diferentes condições (tensão, compressão, flexão, cisalhamento) e aplicar tecnologias modernas, para que seja possível otimizar o material e utilizar junto a outros materiais e técnicas, como conchas e membranas, para conseguir estruturas ainda mais ambiciosas.
Neil finaliza afirmando que o bambu é a estrutura de construção natural mais sustentável no planeta e que, sem dúvidas, estamos no início de sua utilização de uma maneira muito mais ampla. Contudo, seu principal ensinamento é que não devemos tentar ajustar o bambu às regras existentes, mas alterá-las para adequar o bambu.
Fonte: Archdaily