Meio Ambiente e Construção

Notícia de 26/9/2013

 

A ação do CBCS (Conselho Brasileiro de Construção Sustentável), em parceria com a Abrafac, tem como foco desenvolver indicadores para comparar edifícios não residenciais e incentivar os operadores a alcançar o menor consumo efetivo.

Estimado em 45%, o consumo de energia nos edifícios brasileiros segue em ritmo crescente na última década, de acordo com a Empresa de Pesquisa Energética, do Ministério de Minas e Energia (MME). Para um processo mais eficiente, os projetos e a concretização de obras com premissas sustentáveis são fundamentais. Porém, devem estar alinhados ao consumo do cotidiano da edificação para o qual raramente há metas de consumo estabelecidas tampouco uma avaliação de eficiência ou um processo de etiquetagem, ferramenta que hoje existe apenas para as fases de projeto e edifício recém-concluído.

Nessa perspectiva, o Comitê Temático Energia do CBCS (Conselho Brasileiro de Construção Sustentável) apresentou, em maio, a iniciativa Benchmarking e Etiquetagem Energética em Uso para Edifícios não Residenciais. A ação tem, até o momento, entre os parceiros a Abrafac (Associação Brasileira de Facilities), o LabEEE-USFC (Laboratório de Eficiência Energética em Edificações da Universidade Federal de Santa Catarina) e a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP).

A ideia, como o próprio nome antecipa, objetiva criar um benchmark, ou seja, um referencial sobre o consumo de energia de edifícios brasileiros não residenciais. Atualmente, há várias bases de dados, mas não indicadores que permitam a comparação entre edifícios. “Dados primários nacionais são necessários para gerar um cenário brasileiro e assim desenvolver uma etiqueta para o desempenho energético em uso no país”, indica Roberto Lamberts. O coordenador do Comitê Temático Energia do CBCS é um dos que está à frente da iniciativa. O engenheiro sinaliza que um condomínio com pouca eficiência torna-se mais caro e consequentemente perde, ou retarda, o retorno financeiro pela dificuldade de locação ou venda do imóvel.

Filiado ao CBCS e Mestre em Engenharia pela Universidade de Cambridge, Edward Borgstein também participa do desenvolvimento da metodologia. “O consumo real de energia em um edifício muitas vezes não reflete as metas previamente estipuladas. Isso acontece por falhas de compatibilização entre os projetos conceitual e executivo, que podem se repetir também Release Benchmarking e Etiquetagem Energética em Uso para Edifícios não Residenciais | Junho 2013 2/4 na fase da obra e no próprio funcionamento e gerenciamento do edifício”, ressalta o engenheiro.

Como exemplo, Edward aponta um recente estudo realizado em edifícios universitários do Reino Unido. Durante medições das taxas de emissão de CO², por consumo de energia, constatou-se que enquanto os projetos previam em média uma emissão de 40 kg de CO² por m², após um ano de ocupação desses lugares a média foi de 100 kg de CO² por m², ou seja, mais que o dobro do consumo previsto inicialmente.

 

Fases da Iniciativa

Como primeiro passo, a iniciativa atua na captação de parceiros para o fornecimento de dados de consumo energético e para o desenvolvimento de um banco de dados nacional. Petrobras, Caixa Econômica e Cushman & Wakefield, por exemplo, já confirmaram o fornecimento de informações de seu estoque de edifícios. Para facilitar a adesão, há uma página no site do CBCS (http://www.cbcs.org.br/benchmarkingenergia) com informações sobre o projeto e maneiras de colaborar. “Para empresas com estoque de até 200 edifícios, o modo mais fácil de participar será simplesmente preencher um formulário disponibilizado no site.

A partir daí, haverá o envio de atualizações para acompanhamento”, conta Borgstein. O engenheiro ressalta que o método tanto será positivo no sentido de o edifício ter a resposta se está operando ou não dentro do que foi projetado como será útil a empresas com vários edifícios que poderão rapidamente identificar os mais eficientes e replicar os acertos naqueles com um maior consumo ou que precisam de medidas de eficiência ou atualizar o sistema.

Ainda que as empresas disponham apenas de dados básicos, que são mandatórios para a participação na iniciativa, como localização, área, metragem e consumo de energia, será possível obter a etiqueta a ser desenvolvida pelo projeto aos moldes da existente hoje para as etapas de projeto e edifício entregue no Programa Brasileiro de Etiquetagem de Edificações, o Procel Edifica, com o qual, inclusive, deverá ser criado um vínculo. “Será o embrião de uma nova etiqueta do Procel Edifica”, aponta Roberto Lamberts.

As empresas poderão ainda optar por fornecer mais detalhes de sua operação. Além da contribuição básica, haverá a possibilidade de um benchmark com correção aplicado no caso, por exemplo, da companhia possuir um data center que ocupe parte considerável de sua área e do consumo de energia. Neste caso, exclui-se essa área para que não seja gerado como resultado um consumo muito maior do que o normal para um ambiente de escritórios.

“Tais correções serão feitas por meio de metodologias de cálculo que estamos desenvolvendo”, explica Borgstein. O projeto contempla ainda um terceiro nível de participação, esse com auditoria de energia, uma análise mais complexa e detalhada da composição do consumo de energia, que envolve a visita de uma equipe técnica à empresa que poderá analisar o potencial de melhoria do edifício.

 

Experiências Internacionais

Com base em projetos e experiências similares bem-sucedidos na Austrália, Reino Unido e Estados Unidos, alguns desenvolvidos ao longo dos últimos 20 anos, a iniciativa brasileira tem revisado procedimentos e documentos internacionais. O objetivo é aplicar o que de melhor essas metodologias têm, mas com foco na realidade do Brasil. Tanto que não se pretende adaptar dados internacionais a fim de estabelecer comparações com o consumo de edifícios nacionais.

O programa brasileiro envolverá a coleta de dados estatísticos de consumo em edifícios de várias tipologias, para criar um banco de dados de informações básicas. Além disso, para a criação de cada benchmark, serão realizados estudos em edifícios exemplares para detalhar o entendimento dos perfis de consumo. Com a implantação do programa de etiquetagem, as informações enviadas pelos participantes serão mantidas em caráter anônimo tanto para revisar quanto divulgar os benchmarks brasileiros. “Combinando as metodologias de vários países, será criado um benchmark mais robusto e útil com atualizações dos resultados a longo prazo”, avalia Borgstein.

Pensando em países onde a etiquetagem dos edifícios em uso já é mandatória para algumas tipologias, a expectativa é que no Brasil, o processo voluntário torne-se compulsório em alguns anos. Para Edward Borgstein, como medida de preparo do setor, um bom passo seria tornar o programa mandatório primeiramente no portfólio de imóveis de uma empresa, em edificações públicas ou até mesmo em um município. Como exemplo, o engenheiro cita que Nova York, em 2011, implantou a Local Law 84, lei que tornou obrigatória a medição do consumo de energia em prédios comerciais com mais 500 m². Em dois anos, a ação identificou que edifícios antigos podem ser mais eficientes em termos energéticos do que os mais novos ou certificados.

Portanto, a aplicação dessa metodologia no Brasil se torna relevante para apresentar, a partir de dados confiáveis, o consumo de energia dos edifícios nacionais. “Indicadores de Release Benchmarking e Etiquetagem Energética em projeto demonstram a capacidade de o edifício possuir um baixo consumo, mas não mostram resultados e números reais da fase de uso, o que é o conceito chave da iniciativa do CBCS”, conclui Borgstein.

 

Fonte: Secovi