Novidade no mercado, blocos produzidos com agregados à base de resíduos de ostras e mariscos apresentam diversas vantagens
O que teriam em comum a pavimentação do calçadão da Orla da Meia Praia em Itapema, e do acesso a Escola do Mar, em São José-SC? Além de serem obras de pequenas edificações, ambas utilizam blocos de concreto inéditos no país, produzido com agregados à base de resíduos de ostras e mariscos, podendo levar, também, lodo de porcelanato, pó de mármore e pó de vidro.
Desenvolvido pela pesquisadora Bernadete Batalha Batista, engenheira civil e ambiental, o produto foi patenteado pela Blocaus, fabricante de produtos de concreto, com a denominação Bloco Verde. “Ensaios feitos em laboratório comprovaram sua adequação às normas técnicas da ABNT. Com o apoio da FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos, órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia, será produzido em escala industrial até o final do ano”, esclarece o engenheiro Luiz Francisco Teixeira Marcondes, diretor comercial e responsável técnico da empresa.
Amigável com o meio ambiente, o novo bloco apresenta vantagens, como maior leveza e menor participação de insumos como cimento, areias, pó de pedra e brita em sua composição. “O Bloco Verde reduz entre 30% e 40% o custo total de uma obra, com desperdício zero”, ressalta o diretor. As cascas de ostras e mariscos garantem ao bloco resistência 30% superior à dos convencionais, além da baixa absorção de água. E é matéria-prima farta em Santa Catarina: são 16 mil ton/ano, sendo que 60% desse total são gerados na Grande Florianópolis. “As cascas de ostras e mariscos trituradas resultam em pós de várias granulometrias, que poderão ser transportados e vendidos para outras fábricas de blocos em todo o País”, afirma, antecipando que todos os produtos da empresa vão tornar-se ‘verdes’.
Casas populares
O projeto Bloco Verde tem o objetivo de reduzir o custo da construção civil em cerca de 30%, principalmente para obras de moradias populares. “A economia pode chegar a até 50%, se concedido o benefício fiscal que estará sendo proposto na equação deste projeto. Considerando o déficit habitacional nacional, da ordem de 8 milhões de habitações, com os recursos disponíveis poderão ser produzidas 40% a mais de moradias com a utilização do Bloco Verde. Ao reaproveitar resíduos da construção civil e de conchas de ostras e mariscos, essa produção se viabiliza de maneira contínua e permanente”, diz Teixeira Marcondes. Para bem especificar o Bloco Verde, o calculista de alvenaria estrutural deverá esclarecer dados de resistência e paginação das paredes da obra.
Passivos ambientais
A inclusão do resíduo da maricultura na composição do novo concreto colabora para mitigar importante passivo ambiental no estado de Santa Catarina – líder nacional na produção de ostras e mariscos. “Nas baias Norte e Sul de Florianópolis são produzidas cerca 10 milhões de ostras e 5 mil toneladas de mariscos. As conchas – parte não consumível destes moluscos -são, muitas vezes, lançadas ao mar causando assoreamento”, alerta o diretor.
Segundo ele, caso essa prática se mantenha, a previsão é de que em dez anos as baías terão acumulado cerca de 1 m de assoreamento, causando importante desequilíbrio ecológico. No caso dos resíduos descartados em terrenos baldios, a matéria orgânica atrai animais e insetos transmissores de doenças e, ainda, provoca mau cheiro.
“Com o reaproveitamento desses resíduos, estaremos poupando o meio ambiente e evitando desequilíbrios ambientais, além de usar menos insumos caros como o cimento e areias finas, gerar empregos e colaborar para a redução do déficit habitacional”, conclui Teixeira Marcondes.
Fonte: Aecweb