Notícia de 11/6/2016
Derrotando os dragões da economia de mercado
Nos últimos anos, iniciativas voltadas para a sustentabilidade têm ganhado força no Brasil e no mundo. Mais do que projetos criados por grandes corporações, o que se vê hoje são ações de pequenos grupos em busca de alternativas ao modelo econômico dominante. Nesse cenário, o Dragon Dreaming, uma metodologia para criação e desenvolvimento de projetos sustentáveis, vem despertando o interesse de cada vez mais pessoas conectadas com a chamada nova economia.
O método foi criado pelo australiano John Croft, cofundador da Gaia Foundation, que se inspirou na sabedoria dos povos aborígenes da Austrália. O Dragon Dreaming deve ser aplicado para realizar sonhos, podendo ser usado em qualquer projeto, tanto pessoal como profissional, desde que siga três princípios: crescimento pessoal (compromisso que o indivíduo tem com a própria cura e empoderamento), construção de comunidade (reforço das comunidades das quais faz parte) e serviço à Terra (busca por melhorar o bem-estar e a prosperidade de toda a vida no planeta Terra, o que passa pela utilização consciente de todos os recursos do projeto).
Na contramão da competitividade desenfreada e das práticas pautadas pelo ganho de uns e a perda de outros, o Dragon Dreaming propõe relações de “ganha-ganha”, nas quais todos os envolvidos em um projeto devem ser ouvidos, respeitados e atendidos. Pedro Araújo Mendes, um dos facilitadores do método no Rio de Janeiro, explica como isso funciona: “O modelo econômico ancestral que conhecemos era o escambo. Mas, ainda assim, é um modelo onde há ganhadores (quem tem para trocar) e perdedores (quem não tem para trocar)”, explica. “Existe uma outra economia bem pesquisada mas pouco divulgada, que é a economia da dádiva — ou economia de dom —, onde não existe o conceito de troca nem o de propriedade. O foco dessa economia é sustentar a vida, humana e não humana. Isso ainda está presente em vários povos nativos. A cultura aborígene, considerada a mais sustentável do planeta, vive nessa economia por mais de 40 mil anos até hoje. Na origem da vida humana, essa cultura está presente, na relação entre pais e filhos, onde não há troca, mas somente doação e amor incondicional”, aponta.
Mas como conseguir conectar pessoas que possam contribuir para realizar um sonho ou até um projeto de vida nesses moldes? Para que a coisa funcione, é fundamental que o idealizador do projeto compartilhe o seu sonho com pessoas que possam apoiá-lo, formando assim um “time dos sonhos”. “O primeiro passo é trazer para a consciência que somos seres colaborativos na nossa essência e reconhecer quando fazemos isso nas nossas amizades, trabalho e família”, ensina. “Com essa consciência, que tal começar a ter essa prática com pessoas ao redor no dia a dia? Um outro ponto é procurar não entrar na barganha. É realizar 100% dos sonhos de todos”, pontua Pedro.
John Croft explica o método em uma das iniciativas do Dragon Dreaming
De acordo com o Dragon Dreaming, para atingirem o sucesso, os projetos devem passar por quatro fases: sonho, planejamento, realização e celebração. Cada uma dessas fases deve acontecer com a colaboração do grupo. Por meio de práticas simples, o Dragon Dreaming orienta a engajar as pessoas de forma genuína para o desenvolvimento de um sonho. Assim, cada participante contribui de acordo com as suas próprias habilidades, podendo atuar mais fortemente em uma das quatro fases.
Dançando com os dragões internos
O nome Dragon Dreaming revela a essência da metodologia: levar o participante a um intenso trabalho de desenvolvimento pessoal. Durante o processo, emergem grandes desafios internos — os dragões —, que surgem com o contato com essa nova perspectiva que convida a estar fora do controle racional.
“O maior desafio está em mudar o modelo mental que acredita na competição como forma de evolução e a descrença na colaboração como modelo viável, onde todos ganhem, sem barganhas. Isso é desafiante, pois essa visão de mundo só é possível mudar ao enxergar dentro de si as crenças limitantes, em um trabalho de autoconhecimento, que é único para cada um”, explica Pedro.
Superados os desafios iniciais, a tendência dos participantes é querer aplicar o método na vida toda. “Fica tão bom fazer projetos assim que não queremos mais fazer de outra maneira. Muitas pessoas que fazem cursos comigo me relatam muitas mudanças positivas no uso do DD. Seja no trabalho, seja trazendo esses conceitos para dentro da família, ou até em projetos como mestrado, namoro e tudo que você possa imaginar. Afinal de contas, a nossa própria vida é também um grande projeto, talvez o mais incrível de todos”, conclui Pedro.
Grandes empresas como bancos e universidades já tiveram contato com o método, que atualmente é largamente utilizado em diversos países como Austrália, Alemanha e Espanha. No Brasil, o Dragon Dreaming já foi utilizado em diversos projetos como o Amaflores, apoiado pela Universidade Federal de Viçosa (MG), além de ser utilizado pela produtora cultural colaborativa Casa Amarela e pela Oka Bioembalagens.
Confira como participar de cursos e vivências do Dragon Dreaming no site www.dragondreamingbr.org ou na página no Facebook: www.facebook.com/dragondreamingbrasil
Fonte: Revista Vertigem