Meio Ambiente e Construção

Caminhando recentemente da padaria até minha casa, achei curioso ver uma senhora e um senhor com suas cadeiras de praia sentados na calçada em frente ao prédio, conversando e tomando chimarrão. Em muitos bairros de classe média e média-alta de Florianópolis (e de outras cidades grandes), não é tão comum ver pessoas compartilhando e se apropriando de espaços públicos.

Além disso, em seus projetos urbanos, as cidades muitas vezes acabam privilegiando carros, em detrimento de pedestres e ciclistas. Você já parou para reparar na quantidade de espaços destinados a estacionamentos em uma cidade?

Foram essas observações que motivou a criação de um movimento, em 2003, em São Francisco, nos Estados Unidos, de pessoas querendo debater a questão da existência de espaços diferenciados para carros e pessoas nas cidades. Esse debate foi promovido na vaga de estacionamento de um carro, no denominado “Park(ing) day”. A partir daí, o que era para durar um dia se transformou em um movimento permanente. Em 2005, São Francisco instalou o primeiro parklet, conceito que depois se espalhou por diversos países.

 

‘PARK’ – SENTIDO DUPLO: ESTACIONAR E PARQUE

São Paulo foi pioneira na implantação dos parklets no Brasil, com o primeiro parklet instalado em 2013, trazido pelo Instituto Mobilidade Verde. A partir daí, um decreto municipal foi feito em abril de 2014, a primeira política pública da América Latina para o assunto, regulamentando os parklets, que podem ter mesas, bancos, árvores, estacionamento para bicicletas, wi-fi livre, tudo para criar um ambiente acolhedor para os cidadãos.

Os parklets são considerados “mini-praças”, que são instalados no lugar de duas vagas de estacionamento, aumentando a quantidade de espaços de convivência nas cidades.

Conforme consta no site da Gestão Urbana da Prefeitura de São Paulo,

“Os parklets são extensões temporárias das calçadas, que promovem o uso do espaço público de forma democrática a partir da conversão de um espaço de estacionamento de automóveis na via pública em um espaço para permanência de pessoas.”

 

Ainda que algumas entidades privadas estejam patrocinando e fazendo a manutenção de parklets, a Prefeitura de São Paulo estipulou que esses estabelecimentos não podem fazer dos parklets espaços exclusivos, pois devem ficar disponíveis para toda população. O parklet fica temporariamente instalado, por até três anos, com possibilidade de renovação com a prefeitura.

No site da Prefeitura de São Paulo, ainda está disponível um mapa com os parklets instalados e uma cartilha que descreve como implantá-los, com a possibilidade de ser feito por pessoa física, jurídica ou pelo poder público. Segundo informações da assessoria de imprensa da Prefeitura, quase três anos após a regulamentação, São Paulo possui atualmente 126 parklets, sendo 94 da iniciativa privada e 32 do poder público. 

 

O formato dos parklets de São Paulo segue um modelo, conforme instruções no manual, mas eles são modulares e podem ser montados de maneiras distintas. A madeira é a mesma para todos e tem durabilidade prevista de 15 anos. Parklets não podem ser instalados em faixas exclusivas para ônibus, ciclovias, ciclofaixas, ou locais em que a velocidade possa ultrapassar 50 km/h. 

“A iniciativa da Prefeitura de São Paulo com a regulamentação da implantação de parklets busca humanizar e democratizar o uso da rua, tornando-a mais atrativa e convidativa, e provocando uma reflexão sobre a cidade que queremos habitar” (Parklets – Políticas de Incentivo – Parklets Municipais)

No Brasil, os parklets não estão mais restritos a São Paulo: outras cidades também já possuem regulamentação, como Belo Horizonte-MGBlumenau-SC e Fortaleza-CE.

 

O CASO DE MEDELLIN

Repensar o espaço público pode trazer benefícios que vão além do imaginado para uma cidade. Vale relembrar aqui o caso de Medellin, na Colômbia, que conseguiu reverter sua imagem associada a cartéis da máfia e violência por meio de políticas públicas e um projeto urbanístico de sucesso. A cidade construiu diversos espaços comunitários, como bibliotecas e parques, em áreas de vulnerabilidade social, transformando as paisagens urbanas. Esses espaços deram uma nova cara a Medellin. Aliado a um projeto educacional da prefeitura da época, conseguiu-se diminuir a violência e melhorar a fama da cidade. 

 

Fonte: Politize