Meio Ambiente e Construção

Notícia de 6/6/2014

 

Quando o assunto em debate é a construção civil, é inevitável abordar a importância que a área possui no país. O destaque, no entanto, infelizmente não abrange apenas um cenário favorável: ao mesmo tempo em que figura como um dos setores que mais geram riqueza e postos de trabalho no Brasil, a construção civil é também uma das principais geradoras de resíduos.

Quase a totalidade dos processos do setor produz resíduos, o que se deve principalmente ao alto nível de perdas da atividade. Ainda que nem toda perda gere rejeitos (já que uma parte dela fica na obra), dados da Abrecon – Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição, apontam que os resíduos chegam a representar 50% do material desperdiçado no segmento. O número alarmante dá uma boa ideia da imensa quantidade de materiais de construção que se descarta todos os dias em decorrência das obras.

A problemática da geração desses resíduos se agrava ainda mais quando a ela se soma outro fator preocupante: grande parte não recebe a destinação correta, e acaba por ser deixada clandestinamente em terrenos baldios, áreas de preservação permanente, vias e logradouros públicos. Neste quadro, a disseminação de uma cultura de tratamento, reciclagem e reutilização no setor se apresenta como uma questão cada vez mais urgente dos nossos tempos, em que a sustentabilidade ambiental deve ser encarada como aliada indispensável do desenvolvimento econômico.
 
Vale lembrar que o atual momento do Brasil aquece ainda mais o debate acerca dos impactos da construção civil: se por aqui a questão da reciclagem desses resíduos ainda engatinha quando comparada à Europa, por exemplo, a iminência da Copa do Mundo – e das Olimpíadas – é o timing perfeito para repensar o modo como nossas obras têm refletido a tão buscada sustentabilidade.
 
 

A geração de resíduos na obra: entulho e efluentes devem ter destinação adequada

Em definição da Abrecon, o Resíduo da Construção e Demolição (RCD) ou Resíduo da Construção Civil (RCC) é todo resíduo gerado no processo construtivo, de reforma, escavação ou demolição. Desta forma, pode-se dizer que o entulho inclui os restos de tijolo, argamassa, concreto, madeira, aço e outros materiais advindos da construção, reforma e/ou demolição de estruturas diversas como residências, pontes e prédios.
 
Se a geração desses resíduos se tornou um grande obstáculo a ser ultrapassado pelo setor da construção civil, que se vê em meio ao desafio de conciliar seus processos de produção com um desenvolvimento consciente, a alternativa da reciclagem e do reaproveitamento se apresenta como solução. A importância de escolher este caminho ainda é respaldada pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) ou Lei 12.305/2010, que regulamenta o manejo ambientalmente correto dos resíduos sólidos e define metas de reutilização, redução e reciclagem. A lei, que visa minimizar o nível de rejeitos para destinação final, demanda a participação de todos os setores da sociedade, e certamente engloba a mudança de postura de empresários do ramo da construção.
 
Outros resíduos gerados em obras são efluentes como a lama bentonítica na etapa de escavações e perfurações, e a água residuária composta de esgotos domésticos.  Se esses efluentes não forem tratados adequadamente, ocasionam a poluição do solo e corpos d’água, além de ações passíveis de penalizações e até interdição da obra por parte dos órgãos responsáveis.
 
O armazenamento dos efluentes deve estar de acordo com a NBR 7229 da ABNT que determina as condições para construção e operação de tanques sépticos, tratamento e disposição de efluentes e lodos sedimentados, não sendo permitido o uso de valas a céu aberto ou de caixas sem tampas adequadas. A norma também estabelece que os efluentes dos refeitórios passem previamente por caixa retentora de gordura, antes de serem levados para tratamento.

 
 

Benefícios econômicos, sociais e ambientais: as vantagens de encaminhar o entulho para reciclagem

Independentemente da utilização do resíduo reaproveitado, a opção pelo tratamento dos resíduos da construção civil acarreta benefícios da ordem econômica, social e ambiental. A substituição dos materiais convencionais pelo entulho, por exemplo, resulta em economia na aquisição de matéria-prima. Com a reciclagem, há ainda a minimização da poluição causada pelos resíduos, que podem causar enchentes e o assoreamento de rios e córregos.
 
É importante destacar que o descarte incorreto também traz sérias consequências para o ambiente urbano, sendo ambientes que propiciam doenças como dengue e febre amarela e chamariz de roedores e insetos. Como se vê, a falta de encaminhamento adequado desses materiais gera prejuízos do ponto de vista do meio ambiente e da qualidade de vida da população, evidenciando ainda mais a necessidade de reaproveitamento.
 
Em um processo sustentável completo que reduz a poluição, preserva as reservas naturais de matéria-prima, acarreta ganhos financeiros e ainda promove oportunidades de trabalho e renda, o tratamento e reciclagem dos resíduos da construção civil demanda a atenção dos órgãos fiscalizadores e a conscientização de empresários do setor que detêm o grande poder de tomar uma decisão de mudança.
 

Por fim, vale a pena citar uma última informação: segundo a ABRELPE – Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, o Brasil produz em média 31 milhões de toneladas de resíduos da construção civil (RCC) por ano. Se os dados impressionam, a reação em prol de obras sustentáveis deve vir com força total: você está pronto para fazer a sua parte?

 

Fonte: Tera Ambiental